terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fórum de Lagos

Sob o lema “Que políticas de Imigração para o Século XXI?”, o concelho de Lagos, no Algarve, acolheu nos dias 24, 25 e 26 de Outubro o 3.º Fórum Nacional da Estruturas Representativas das Comunidades Imigrantes em Portugal.
O movimento associativo imigrante em Portugal demonstrou, uma vez mais, a sua vitalidade e capacidade com a realização da terceira edição de um fórum nacional concebido e executado pelos seus representantes. Esta realização anual teve a sua génese em Abril de 2006, na cidade de Ponta Delgada, tendo-se seguido a segunda edição em Abril de 2007, na cidade de Setúbal.
Um dos aspectos mais relevantes desta terceira edição foi, sem dúvida, a parceria com o poder local. Uma parceria que não se limitou à atribuição de subsídios ou de apoio logístico, que não devem ser menosprezados, mas o relacionamento foi, desta vez para além disso, o relacionamento foi de cooperação e envolvimento com base no pressuposto, assumido pelas partes, de que o poder autárquico, pela sua proximidade com os cidadãos, autóctones e estrangeiros, reúne condições únicas para promover políticas locais de integração e acolhimento adequadas às características da população e do território sob o qual exercem governo. Na sequência deste propósito resultou que uma das recomendações da “Agenda de Lagos”, documento que se constitui em agenda comum das associações de imigrantes até à realização do próximo Fórum, apela aos imigrantes e às suas organizações para se envolverem na vida política local e para o estabelecimento de plataformas locais com as autarquias e redes locais de apoio ao cidadão.
Da “Agenda de Lagos” constam, igualmente, outras recomendações que se constituem, por um lado, em posições de repúdio e luta face às actuais tendências repressivas e securitárias que caracterizam o que se pretende venha a ser uma política comum europeia para a imigração, de que a “Directiva de Retorno” e o “Pacto Sarkozy” são exemplo, por outro lado, a “Agenda de Lagos” propõe algumas medidas que visam conferir aos cidadãos imigrantes, por via da participação sindical e política, a cidadania plena e recomenda, ainda que, sejam revistas e agilizados alguns aspectos da “Lei dos Estrangeiros”, mormente, os que dizem respeito aos processos de regularização.
A necessidade de encontrar, em Portugal e na União Europeia, uma solução global para os imigrantes indocumentados e a defesa da independência do movimento associativo imigrante, face aos poderes são, igualmente, preocupações espelhadas na “Agenda de Lagos” e sobre as quais as associações recomendam aos cidadãos imigrantes que reforcem a vida associativa e se reforcem e estabeleçam novas pontes de cooperação local e regional e com organizações congéneres na Europa e no Mundo.
O 3.º Fórum decorreu em simultâneo e de forma integrada com o projecto “Lagos Multicultural” promovido pela Câmara Municipal do Concelho de Lagos.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Custos da crise

A crise financeira mundial, de que começamos apenas a ver os primeiros desenvolvimentos, vai ter repercussões globais. Independentemente de declarações de optimismo mais ou menos forçado, ninguém está a salvo. E, como habitual, serão os mais pobres que sofrerão o principal embate.
As economias africanas, apesar de terem registado na última década indíces de crescimento importantes (embora isto não signifique, de nenhuma forma, melhores condições de vida para a população) estão entre as mais fracas e dependentes do planeta. São conhecidos os fracos níveis de industrialização e integração tecnológica, as exportações apenas de matérias primas, o fraco desenvolvimento dos mercados internos, aos quais se alia uma enorme dependência alimentar, facto tanto mais grave quanto se tem assistido a um aumento descontrolado dos preços dos géneros alimentares.
É, assim, em África que a fome mais tem crescido. De facto, de acordo com dados do Global Hunger Index (publicado por um instituto internacional dedicado ao estudo das questões da alimentação mundial), dos dez países com maiores índices de fome e de má nutrição, nove são da África subsariana.
A crise irá agravar certamente estas situações, já que a recessão das economias do norte irá ditar também o recuo nas exportações africanas. Mas, de uma maneira muito mais grave, haverá cortes substanciais nos programas de ajuda ao desenvolvimento e ao próprio programa alimentar mundial. Salvar banqueiros da falência é muito mais urgente do que alimentar milhões de seres humanos! E é o próprio Kofi Annan que o denuncia: As promessas feitas pelo G-8 e pela Cimeira de Roma, sobre pacotes de ajuda aos países africanos não estão a ser cumpridas.
A ajuda que os países subdesenvolvidos precisam para se desenvolverem vai continuar a ser adiada. As crises humanitárias como na Somália (onde todas, ou quase todas, as estruturas de um estado organizado já desapareceram), ou no Darfur, vão agravar-se inexoravelmente. Afinal, os custos da crise não vão ser pagos apenas com os milhões dos bancos centrais. A voragem especulativa dos últimos anos também se vai fazer pagar em vidas humanas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Afinal somos todos imigrantes?

Valeu a iniciativa de ontem. Apesar da chuva a malta aderiu e ficamos com a certeza que vale a lutar. Vale a pena continuar a batalhar por um mundo sem fronteiras, onde as pessoas pelo facto de não terem uma autorização administrativa não sejam tratadas como criminosas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Somos todos migrantes

Jornada de Acção
Concentração/Manifestação

Pela regularização dos(as) indocumentados(as),
contra a onda xenófoba e contra o Pacto Sarkozy

Associações convocam jornada de acção para
domingo, 12 de Outubro, às 15h, no Martim Moniz

Nos dias 15 e 16 de Outubro, o Conselho Europeu reunirá os chefes de Estado e de governo dos 27 para ratificar o "PACTO EUROPEU sobre IMIGRAÇÃO e ASILO", aprovado no conselho de ministros realizado a 25 de Setembro. O Pacto proposto por Nicolas Sarkozy, no contexto da presidência francesa da União Europeia, visa definir as linhas gerais da UE nesta matéria e assenta em cinco pontos fundamentais: organizar a imigração legal, priorizando a adopção do "cartão azul", para recrutamento de mão-de-obra qualificada; facilitar os mecanismos e procedimentos de expulsão e estabelecer nesse sentido parcerias com países terceiros e de trânsito; concretizar uma política europeia de asilo; reforçar o controlo das fronteiras; proibir os processos de regularização colectiva.
Depois da aprovação da Directiva de Retorno, com o voto favorável do Governo português, estas medidas representam mais uma vergonha para a Europa. O tratamento securitário das migrações, a definição de critérios discriminatórios para acesso ao trabalho, o aprofundamento da criminalização da migração, da militarização e externalização das fronteiras através do FRONTEX e a perseguição dos(as) cerca de 8 milhões de indocumentados(as) que vivem e trabalham na Europa - a quem é oferecida a expulsão como única saída -, são medidas que visam consolidar uma Europa Fortaleza, da qual não podemos senão nos envergonhar.
Em Portugal, a recente onda de mediatização da criminalidade e as recentes declarações de responsáveis governamentais que trataram os(as) imigrantes como bodes expiatórios para o aumento da criminalidade, abrem espaço para as pressões xenófobas e racistas, e criam um ambiente propício para a desresponsabilização do Governo. Em causa está a necessidade de regularização de dezenas de milhares de imigrantes que defrontam sérias dificuldades em regularizar a sua situação.
São homens e mulheres que procuraram fugir à miséria, fome, insegurança, obrigados a abandonar os seus países como consequência do aquecimento global e outras mudanças climáticas, ou que muito simplesmente tentaram mudar de vida, mas a quem não foi reconhecido o direito a procurar melhores condições de vida. Tratam-se de pessoas que não encontraram outra opção senão o recurso à clandestinidade, muitas vezes vítimas de redes sem escrúpulos, e que se confrontam com uma lei que diz cinicamente que "cada caso é uma caso", fazendo da regra a excepção e recusando à generalidade dos(as) imigrantes o reconhecimento da sua dignidade humana. Destaque-se a situação dos imigrantes sem visto de entrada, a quem a lei recusa qualquer oportunidade de legalização.
Solidários(as) com a luta que se desenvolve na Europa e no mundo contra as politicas racistas e xenófobas, também por cá vamos lutar pela regularização de todos imigrantes, sem excepção, cada homem/mulher - um documento. É uma luta emergente contra as pretensões de expulsão dos(as) imigrantes, contra a vergonha de uma Itália que estabelece testes ADN como instrumento de perseguição dos ciganos(as), contra as rusgas selectivas, arbitrárias e estigmatizantes, contra a criminalização dos(as) imigrantes, contra a ofensiva das políticas securitárias e racistas, alimentadas pelo tratamento jornalístico distorcido feito por alguns meios de comunicação social. Cientes de que está criado um ambiente de perseguição aos imigrantes na Europa, e rejeitando as pressões racistas e xenófobas dos Governos de Sarkozy e Berlusconi, organizações de imigrantes, de direitos humanos, anti-racistas, culturais, religiosas e sindicatos, decidiram marcar para o próximo dia 12 de Outubro, domingo pelas 15h, no Martim Moniz, uma jornada de acção pela regularização dos indocumentados(as), contra a onda de xenofobia e contra o Pacto Sarkozy.
ORGANIZAÇÕES SIGNATÁRIAS: Acção Humanista Coop. e Des.; ACRP; ADECKO; Ass, Apoio ao Est.. Africano; AIPA – Ass. Imig. nos Açores; APODEC; Ass. Caboverdeanade Lisboa; Ass. Cubanos R.P.; Ass. Lusofonia, Cult. e Cidadania; Ass. Moçambique Sempre; Ass. dos Naturais do Pelundo; Ass. dos Nepaleses; Ass. orginários Togoleses; Ass. R. da Guiné-Conacri; Ass. Olho Vivo; Ass. Recr. Melhoramentos de Talude; Ballet Pungu Andongo; CGTP-Intersindical; Casa do Brasil; Casa Grande do Brasil; CGTP; Centro P. Arabe-Puular e Cultura Islâmica; Colect. Mumia Abu-Jamal; Comissão de Moradores do Bairro do Fim do Mundo; GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental; Khapaz – Ass. de Jovens Afro-descendentes; Luta social; Núcleo do PT-Lisboa; Obra Católica Portuguesa de Migrações; Sindicatos dos Professores da Grande Lisboa; Solidariedade Imigrante; SOS Racismo; UMAR.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estupidez

Esporadicamente, a estupidez levanta a cabeça e tenta vestir uma capa de modernidade e parecer inteligente. Falha sempre.

Falha, mais uma vez, a tentativa do PNR para, com o lançamento de mais um outdoor desviar as atenções para as suas óbvias ligações à violência e ao crime organizado. O timming não foi acidental, afinal hoje será lida a sentença do caso dos skin-heads, esses sim, verdadeiros causadores de insegurança. Sobre o triste cartaz, vale a pena mencionar que foi plagiado de um cartaz suíço. Opção curiosa, uma vez que a extrema-direita suíça reclama a expulsão dos imigrantes, muitos deles portugueses. É a chamada estupidez-de-rabo-na-boca!

Também falha o Estado Português ao não fazer cumprir a Constituição, que proíbe a existência de partidos racistas, nem ilegalizando, como se impunha, esta organização criminosa.

Mas a estupidez vai jogando em vários tabuleiros. Seja cobardemente, em ruas escuras, de matraca na mão, seja escondida atrás de gravatas azuis e imunidades parlamentares, usando os microfones da nação para amplificar a velha cantilena.

Falha Paulo Portas em convencer seja quem for com a sua argumentação populista, que repete desde há anos, tentando associar os imigrantes à criminalidade. Para o provar, os números (veja-se o interessante estudo do Observatório da Imigração que está aqui) estão aí e a crescente falta de credibilidade do líder do CDS-PP também.

Mas a estupidez é perigosa. Num momento de uma enorme crise, com impactos sociais graves em termos de desemprego, pobreza e exclusão, andar a tentar lançar conflitos artificiais dentro da sociedade portuguesa pode ser como andar a brincar com fósforos junto à bomba da gasolina.

É preciso combater a estupidez. É preciso enfrentar as verdadeiras causas dos problemas e construir um Portugal de futuro, que dê valor à maior riqueza que um país pode ter: as pessoas que o integram.